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De Bello Gallico [23-26]

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No dia seguinte, não lhes restava mais que dois dias de víveres e o exército precisava medir o grão. Como Bibracte,(1) a cidade mais grandiosa e opulenta dos heduos, estava a apenas 18 mil passos de distância, César julgou que era momento de cuidar do suprimento de grãos. Por isso, desviou seu caminho dos helvécios e seguiu em direção àquela cidade, mas sua mudança de planos foi logo relatada aos inimigos por meio de prisioneiros que escaparam de Lúcio Emílio, decurião(2) dos cavaleiros gauleses.


Vista do sítio arqueológico de Bibracte, em Saône-et-Loire, Fança. (https://www.parcsetjardins.fr).


Os helvécios também mudaram de planos: desviaram seu caminho e começaram a perseguir e provocar a retaguarda dos romanos. Acreditavam que eles recuavam – por medo, já que não os haviam atacado no dia anterior, enquanto ocupavam posições superiores – ou temiam corte em sua linha de suprimentos.


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Percebendo isso, César recuou suas tropas para uma colina próxima e enviou cavalaria para segurar o ataque inimigo. Enquanto isso, organizou uma linha de batalha tripla no meio da colina, com suas quatro legiões veteranas. Posicionou as duas legiões que havia recrutado recentemente na Gália Cisalpina no topo do monte, juntamente com todas as unidades auxiliares, de modo que o monte ficasse repleto de soldados até o topo. E ordenou que as bagagens e suprimentos fossem reunidos em um mesmo local, fortificado pelas tropas da linha superior. 


Os helvécios resguardaram os suprimentos em local seguro e, acompanhados de todos os seus carros, avançaram em formação cerrada, repelindo nossa cavalaria e formando uma falange contra a nossa linha de frente.


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Primeiro, César removeu seus próprios cavalos e, depois, os dos demais à sua vista. Fez isso para nivelar a todos, incentivando suas tropas a lutar e diminuindo o risco de fuga por medo. Seus soldados contavam com a vantagem do terreno elevado, e lançavam a pila com facilidade na falange inimiga, quebrando-a. Então, depois de dispersá-la, investiram contra ela com espadas. 


Os gauleses estavam em desvantagem. Muitos tinham seus escudos varados e unidos por dardos, o que tornava difícil manejar suas armas com a mão esquerda presa. Assim, depois de agitarem o braço por longo tempo, muitos preferiam largar o escudo e lutar a descoberto. Finalmente, exaustos e feridos, começaram a recuar em direção a uma colina que notaram a cerca de mil passos de distância.

 

Com a captura da colina e a aproximação das nossas tropas, os boios e os tulingos se voltaram e tentaram nos oprimir pelo flanco, cercando-o com cerca de 15 mil homens. Então, os helvécios que haviam se retirado para a montanha reiniciaram o ataque e retomaram a batalha.


Os romanos então inverteram os estandartes e avançaram em duas direções. A primeira e a segunda linha deveriam resistir aos inimigos rechaçados, enquanto a terceira linha enfrentaria os que se aproximavam.


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Travou-se intensa e prolongada batalha em ambas as frentes. Quando não puderam mais resistir ao ataque das nossas tropas, alguns recuaram para a montanha, como já haviam feito, enquanto outros se dirigiram para o local onde haviam reunido as bagagens e os carros. Esse confronto durou desde a sétima hora(3) até o anoitecer, sem que ninguém visse o inimigo em fuga. 


Batalha de Bibracte, 52 a.C. (https://history-maps.com).


A batalha continuou até tarde da noite. Os helvécios usaram seus carros como barreira, de onde, em posição elevada, arremessavam lanças contra nossas tropas. Por entre as rodas dos carros, outros atiravam lanças curtas e dardos em nossos soldados, quando eles se aproximavam. Mas, depois de longa luta, nossos homens tomaram deles as bagagens e o acampamento. Foi ali que a filha de Orgetorix e um de seus filhos foram capturados. 


Cerca de 130 mil combatentes inimigos sobreviveram, e marcharam durante a noite toda, sem parar, até que, no quarto dia, alcançaram o território dos lingones. Nossas tropas não puderam persegui-los devido aos ferimentos dos soldados e os cuidados com os mortos. Mas, depois de uma pausa de três dias, César partiu em perseguição a eles com todas as suas forças.


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(1) Atual cidade de Autun, na França.

(2) Cada companhia tinha 30 cavaleiros. Os chefes de cada dezena deles eram chamados decuriões.

(3) Cerca de uma hora da tarde.

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